01 julho 2008

Mata-Munhoz


Anunciação

Do céu acima veio acertar-me o olho
De modo que, no primeiro instante
Tive de fechá-lo no impulso
Não doeu, mero instante de cegueira
O estalo fora quase um afago
Inesperado, é claro
- Eu não contava olhar para cima
Esclareço – não tenho crenças
Não acredito, portanto, no acaso
Não foi preciso aceitar
. Veio-me de graça
. com inestimável preço
Não foi preciso agradecer
. Tampouco houvera indulgência
Somente um acontecimento molhado
Num lampejo em que meus olhos
Imediatamente cerraram-se e reabriram
Nada mais que num lampejo promissor
Pois ao abrir os olhos
. O mundo antes turvo
. acre, seco, surdo
quis encontrar-me de acaso
e no entanto, hoje penso,
não fora nada além de uma gota
A primeira gota
A anunciação da tempestade

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