09 dezembro 2007

Maia Bruel

Tarde de sombras

Pouco crepúsculo vejo,
Quase um ruído
Nenhum lampejo.

No ar imóvel da tarde seca
Paira ligeira brisa,
idos desejos.

Um lago onde me despejo,
parado e raso,
a nado parco me movo e me perco
no fogo que transcedo.

Dissolvo a escuridão no silêncio,
torço o dorso feito
ovo-oco,

sob um qualquer firmamento
me esqueço.

E as luzes dançam em cadência caótica

e soa meu vento em coro com o imenso,
globalizado
desespêro...

20 novembro 2007

Mata-Munhoz


Soneto ao humanismo

Quão de hilário em discursos tão repetidos
Dos que o fim profetizam ou, por vez, o amor
Vazio conteúdo, pois prever é por
Mera fé na continuidade do ocorrido

E quão dementes os que abstraem os conceitos,
Os que em si-só podem ver a sociedade
E daí fazerem-se donos da verdade
Julgando universais seus solitários feitos

Brota então o amor pela raça humana a vir
Como se especulados, foss'à vir melhores
Quanta fé boçal, a esmo, no qu'há por vir!

Não seria sua morte que lhes causa horrores?
Sem sabê-lo, não se sabendo assim ridículos
Ao confundir o amor humano e seus testículos

17 novembro 2007

Maia Bruel

Deus Digital

Nauseante visão de roupas-flúor,
transe-toque, dedos, pseudo-deus-digital.
Deuses noturnos, de óticos delírios.
Ébrio pelo tráfego esfrego-me.

Lábio confuso
expele mãos,
Intruso.

Eletrônicoscopia
Ebulição ecumênica.

Eletronicassonância pairando rubicunda,
Entre calças de tectel
Uma anágua de cetim.

A patrícia afundada em desejos
Perdia a laia borboleta
Bebericava frôser,
Fumava haxixe...

daímon.

11 outubro 2007

Vinikov

DO THE COOPER


com o cuspe branco no canto da boca
a classe A acaricia
a bunda da classe B
que põe nas coxas
da classe c
e todas usam camisetas
de malha com estampas
do herói revolucionário
camarada Che

03 outubro 2007

Maia Bruel

too much maniac
in my brain
so many maniacs

you feel the pain
if you have
too much feelings

dead feelings
on the rain,

oh

22 setembro 2007

Marcos Sarieddine

Caminho

Perdido na estrada
eu errava.
E aprovoveitava
cada encruzilhada
pra me perder
um pouco mais.
(...)
O que vale é levar
o irrestrito amor

para todos
os encontros casuais.

29 agosto 2007

Ivn Vz

poemas de primeira picardia
1
meu primeiro beijo
na porta da escola
foi depois do recreio
e de muita coca-cola
2
não me lembro quanto
mas fui afoito
já me lambuzando
no meu primeiro coito

26 agosto 2007

Ivn Vz

quase tão frágil que
você me pega e
eu desmancho
quase tão ágil que
você me cega e
eu te acho
quase tão fácil que
você me nega e
eu te mando

20 agosto 2007

Maia Bruel

... pela contra mão, saindo de ruas sem saída, saltando cercas elétricas, rasgando cartões de crédito, roubando identidades e cpfs, destruindo carros, bebendo chuva ácida, sem protetor sob o sol, os olhos sangram, o hálito fede, a boca espuma, furando sinais vermelhos, derrubando postes, sem taqui-cardia, rumo ao dia acaricio a fúria, fumo fogueiras que acendo no centro, cuspo nos pés dos soldados, esmurro quem não me olha, cego, não atravesso em faixas, grito o cio das fêmeas, incendeio apartamentos, atiro em câmeras que me filmaram, derrubo estátuas, queimo rótulos e outdoors, espanco jovens e velhos, esporro do alto de varandas num semear do ódio, minha colheita será os assassinos,
numa Igreja adentro...
Paro, busco o silêncio.

18 agosto 2007

Marcos Sarieddine

Ordem do dia

Pela ordem do dia
a arte!
E dela faz parte
todo tipo de magia.
Viva a música
que nos encanta.
Salve o teatro
que nos sacia.
E viva o carnaval!
E viva o carnaval!
Uma ode a alegria.

17 agosto 2007

Marcos Sarieddine

Parfin

Passa a mulher,
fica o perfume,
começa a ilusão.

Ivn Vz


PELE
BRANCA
PELÉ
PRETO
PAÍS
BRANCO
PAIS
PRETOS

14 agosto 2007

Ivn Vz

Uma vez eu era feliz e tentei suicídio
Uma vez eu parecia dentro de um quadro de Malevitch

Um vez fiquei bêbado com um amigo
Uma vez o carro quebrou no meio de uma estrada

Uma vez andei por uma rua bonita
Uma vez pensei ser o elvis, esses foram bons dias

Uma vez gostei de festas
Uma vez conheci cristina aguilera

Uma vez tb conheci um cão vagabundo
Uma vez roubei uma guitarra

Uma vez fui o centro das atenções pra alguém
Uma vez ela foi minha, juro.


12 agosto 2007

Marcos Sarieddine

Eu e Ele

Não sou daqueles
que se relacionam com deus.
Mesmo que por vezes
venhamos a nos ver,
parece que nossos interesses
não se convergem a um ponto comum.

Estamos além um do outro.
Quando nos encontrarmos
para enfim tirar tudo a limpo,
espero que tudo termine num abraço fraterno.

Marcos Sarieddine

Dentro

Clarão é ver a vida
pelos olhos dos poucos
a tempo de esquecer
toda a formalidade
dos ternos escuros
que ofuscam o querer

Cabelos ao Vento

ABANDONO DE MIM

Eu
quando você me disse que o roxo é azul com vermelho
e sua mão tocava a minha
ainda não sabia

Hoje, o vermelho que você me trouxe
fez do azul que eu dominava
amor do roxo
e eu não mais fosse
eu.

09 agosto 2007

Maia Bruel

Foi-se ao cerrar da janela em foice a esperança,
Há esperança!? Em mim, a mim só me restou a vingança
De um dia quente, imundo, ocre de lembrança
Arranhada, filha da fúria, injúria e vingança (0bstinança).

Lhe destronarei o trono gordo de meus silêncios fartos,
Calcularei com calma fria e branca a agonia tua do meu parto,
Lhe amarelarei os dentes enxertando ódio no teu riso, farto,
Lhe mandarei espelhos de escárnio.
Friso, repito: traira os deusess da tormentas,
Chegar-te-a em casa tua carta-sangue de presságios
A ti o infortúnio abaterá lenta

Em desalento profundo de silencioso desespero o futuro a ti será miséria de
Sofrer a solidão em degredo,
Esquecido, náufrago, segredo.

03 agosto 2007

Rafael Ludicanti


Nossas idéias seriam geniais
mas não são.

Nosso prodigioso destino é um fiasco.

Somos nós que sofremos quando
sacaneamos as meninas.


Eu sou particularmente preguiçoso
e não estou me divertindo.

Cheguei ao estágio em que é
necessário rabiscar garatujas
para deslocar o cérebro do estado de inércia.

02 agosto 2007

C ao V

Cartão Postal

Faço um quadro
Sem moldura
E guardo pra você

31 julho 2007

Maia Bruel

Encontro

Em um beijo meu anseio se dilui.
Peregrino desejo,
amálgama ébria de fluido e sal
sob o véu da noite, o luar.

Uma boca procura outra boca.
O vazio é preenchido pela mais sutil das línguas
a tocar o céu do universo palatal.

Maia Bruel

MARCHA HOPLITA

Deságua exangue
Sobre o sal o sangue
Exposto ao sol

O Deserto

Doutor há séculos enjeta fentanila
Sem que ninguém soubesse,

Apenas a veia cava.

28 julho 2007

Mata/Munhoz

Quando é amor
é dificil, mas
tao vivido, que se sabe
Mas quando é sentimento
profundo, que nao se sabe
nada se sabe, tao profundo
nada se sabe
nada se sabe...

26 julho 2007

Maia Bruel

NOITES

Noites sem sentido
Noites sem fim
Noites sem ti
Noites sem destino

noites
noites
noites sem

Noiva
Em desatino,
No frio,
Noites sem Rio...

25 julho 2007

Ivan Vaz

ela quando
quase dele
ele quando quase dela
corre
corre
corre corre
uma
trás
o
utro
um atrás outra
chutando cachorro morto
chutando cachorro morto

24 julho 2007

Rafael Ludicanti


Oh, espíritos mascarados me aguardam no corredor
com acerto de contas pendentes
os pensamentos que se sucedem
me parecem típicos
de um primata
naquilo que tenho a impressão
de que um primata seja
ou fosse
antes de evoluir para a selvageria
dentro do meu crânio uma melodia atonal
evoca meus instintos mais macabros
de sobrevivência e entretenimento.

22 julho 2007

Mata-Munhoz


O problema do tabagismo
é que todo cigarro tem seu fim
e assim temos sempre que voltar
ao ócio vital em que críamos não estar
enquanto fumávamos...

15 julho 2007

Marcos Braccini

o tiro saiu pela culatra
e eu saí a francesa
pela escotilha
não tive escolha
nem escolta
na volta para casa
e a minha promessa era
tentar ser discreto:
nenhum alarme
ou passos ruidosos
sobre o cimento
depois de quebrar a cara

02 julho 2007

Vinikov

Texto mal-acabado

Um dia ela gritou do berço
e esse grito ecoou no universo.
Da rosa, saiu o verso que me despiu.
Cresceu, rasgou com unhas minhas cartas.
Num ímpeto qualquer
entregou os restos às minhas lagartas prediletas.
Da epiderme ao verme.
Na Antártida folhou vários livros
de matemática sem sentir calafrio.
Inventou um dialeto para conversar com seus pés.
Criou a fala para o falo.
Deu de má-má para Maomé.
Num apelo arrancou-lhe os pêlos um-a-um.
E coroou-lhe Qualquer.
Em briga de marido e marido
não se quebra uma vértebra.
Mais tarde quando a narina arde,
Ela casou-se com Xavier, que gostava de xadrez
mas não sabia tratar uma dama. Era só:
CAMA
NENÉM
FAMA
MAMA
NUVEM.
Ela cubista, ele pessimista.
Ela puta, ele deputado.
Ela ilustre, ele cuspe.
Ela poema, ele texto mal-acabado.

Ivan Vaz

COMO CABELOS AO VENTO E MARTA MEDEIROS
espelho espelho meu,
existe alguém que reflita mais
do que eu?

Ivan Vaz

o que seria feito da vida
se não fosse o que seria
impossível única via
tão vasta como minha
dura espinha melancolia?

Ivan Vaz

OP
é
DOM
eu
P
ai
é
gran
dede
mais
A
mão
da
min
h
A
mãe
min
íma

01 julho 2007

Pedro Braccini


por vezes
paro e
penso
peco?
perco meu olhar

que acho noutro lugar
submerso em nádegas

29 junho 2007

Cabelos ao Vento

Balada da livre docência


Não, não, não
não me disseram que eu tinha esta roupa

não, não, não
hoje vou sair de tio sam

não, não, não
não me disseram pra fazer o que eu quisesse

não, não, não
eu reparto meu cabelo como e com quem eu quiser

não, não, não
eles estavam querendo me desfazer

não, não, não
tira mão

é meu, eu vi primeiro
eu?

eu não me entrego
eu gosto do meu ego

gosto de palhaço
e de mim eu me desfaço

quando quero
danço até bolero

com minha mãezinha

e mais louco é quem me diz, que não é feliz

27 junho 2007

Cabelos ao Vento

Iluminação

Era pra ser um dos grandes
ela estava me fisgando
quando eu

moribundo
preguiçoso
vagabundo
deitei

e curti a sensação plena
daquele poema

Felipe Leite

26 junho 2007

Pedro Braccini

TERCEIRA CATEGORIA

mais essa redondilha
círculo vicioso
uma quinquilharia
que não vem a calhar

um calhau afinal

Pedro Braccini

no rasgo pleno
a agulha no ânus

o tempo e s g a r ç a em anos

na esperança da próxima dor
a pele arregaçada
olhar cicatrizado
nunca mais ileso

represa de pus
não sei onde pus o medo

o som retido
perdido
pra
sempre
pra
dentro do grito

Felipe Leite

25 junho 2007

Vinikov

(sem título)

Numa cadeira de praia
punk
logo de manhã
com novíssimos
ray-ban
com uma blusa
de lã
vejo Hiroshima
mais vermelha que a China


23 junho 2007

Cabelos ao Vento

Espelho, espelho meu
o que existe além de mim
sou eu?

21 junho 2007

Ludicanti


pelo perpétuo vaga
um não sei quê de indagações previsíveis
antes de tudo e de mais nada
como antes e depois
ou quase o mesmo
mas não é
dessa maneira que alcançaremos
no intangível a obscura
saída da caverna desde onde a luz
projeta sombras retidas em nossos calcanhares

08 junho 2007

Felipe Leite


Vinikov

(sem título)

depois de momentos iluminatórios
gerados por lâmpadas amarelas de 30 wats
fiquei como um espantalho de braços
abertos para o terrível
ouvindo o galope antigo de um soluço
de pernas para o ar
e a motocicleta sem freios que sempre
desce uma ladeira íngreme depois da chuva
começou a rugir o motor e vir
para o terreno baldio onde faço
minhas escavações
de repente bilhares de escorpiões de aço
vermelhos e amarelos começaram a vir também
todos se arrastando como guitarras estraçalhadas
no palco da minha solidão
as enormes rodas de borracha começaram
a atropelar meus pensamentos
a amassá-los como latinhas de refrigerante
então encostei o dedo na minha consciência
e comecei a dançar a dançar como um deus doido dançaria
se houvesse deuses que dançassem

>

Ludicanti


Desistir é fácil
então acho que vou
desistir!
Viver uma péssima fase
não é uma boa desculpa
para continuar vivendo
e como duvidar
da própria existência
dos outros
não resolve meus dilemas
estar parado diante
de um móvel de madeira
pode ser espetacularmente
mais significativo
do que ser amado.

Cabelos ao Vento


Reminiscência Revista


Da possibilidade de ser
a última a única vez

num instante
o corpo é roupa
sobre a pele

sensação a primeira vista

Vista

O corpo é sua delícia.

Ivan Vaz

Era uma ves

pa vo (r!!!)

ando

pela noi

te amo

r!!!

Thiakov

...

Ó meu filho querido
Não souberam olhar para ti...

07 junho 2007

Vinikov

(sem título)
meu sangue histérico
espirra na garoa
no meu sangue histérico
o metal pesado das indústrias
faz a sua flanerie
assim como eu caminho numa rua qualquer
de Berlim do meu inconsciente.
pai de todos os orfãos da cidade
eu sou um nada construído pela linguagem
que é ripa na chulipa

Ludicanti


O cântaro úmido
disse adeus

As estrelas minguantes
disseram adeus

Você disse adeus

Eu permaneci
inóspito

Miguel Capobianco-Livorno

Poema Inaugural

Teço as primeiras amarras
somos criaturas radiotivas
meu impulso nervoso
procura seu casulo
no âmago da glândula pineal.

Falhamos ao ser poetas.